quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

dia 5- sexualidade sagrada

Eu poderia falar um pouco sobre o antigo culto a Afrodite e sobre algumas pessoas que conheço que tem uma prática onde o sexo é parte integrante do pacote. Mas se o foco aqui é meu ponto de vista, em um nível mais pessoal, então eu acabo chegando no mesmo lugar de sempre: Dionísio.

As vezes se forma em mim a idéia de que se um dia eu terminasse com meu companheiro, eu faria um voto e ofereceria meu corpo para meu deus. Não acho que isso fosse ser um voto total de castidade, mas com certeza faria com sexo fosse algo muito mais que raro.


Eu vejo o deus do vinho como um amante. Tem um trecho muito legal do Swami Krishnapriyananda Saraswati sobre Krishna que mostra bem como eu vejo isso:



"De acordo com o Sanatana-dharma, o conceito de perfeção espiritual está em subrepujar os sentimentos de medo, e reverenciar a Deus na Sua majestade. Portanto, nos passatempos do Senhor, cada devoto ama a Deus de acordo com o seu sentimento, seja como melhor amigo, uma criança arteira, um grande mestre, ou até mesmo um íntimo amante; isso desvela a forma das infinitas possibilidades de amor a Deus e do Seu amor divino. Os passatempos ou Lilas dos tempos de infância de Krishna em Vrindavana, ilustram a extraordinária intimidade que se pode ter com Deus. "

A extraordinária  intimidade que se pode ter com Deus. Para mim, isso se reflete em ter uma relação de amante com meu deus. Eu penso nele com aquela doçura adolescente e o vejo como o ideal do que se pode desejar em uma pessoa (eu sempre busquei pessoas que tenham algo dionisíaco), eu escrevo seu nome enquanto estou distraída rabiscando ao telefone, eu suspiro quando penso em cada instante ínfimo de intimidade que posso ter com meu Senhor. Eu desejo me perder na presença dele e entendo o transe como uma intimidade sensual. Sou apaixonada por ele. Eu fico corada quando as pessoas fazem algum comentário sobre minha devoção.

Como costumo dizer, eu sou uma groupie do meu deus.

As pessoas tem uma visão pequena de sexualidade as vezes, como se sexualidade fosse só sexo. Sexo é parte disso, mas não é tudo. Minha relação com o divino é uma relação sensualizada. De frio na barriga, de morder o lábio em expectativa, de repetir os nomes amados para ter a sensação de proximidade. De desejo, de suspiros.


ps- eu sei que não falei de Zeus no post, mas coloquei como tag. É que eu tenho a mesma pegada de apaixonamento por ele.

imagem - mural da vila dos mistérios, Pompéia

terça-feira, 30 de novembro de 2010

As coisas de todo dia.

Hoje estava dando uma geral nos blogs que costumo ler (uma boa parte deles está ali no blogroll). E foi curioso porque um post no House of Vines veio em uma direção muito próxima de um pensamento que eu estava tendo.

Durante a primavera, eu fixei uma série de práticas semanais em honra a Dionísio. Este ano, eu me senti um pouco desanimada em cumpri-las, porque estou fisicamente mais solitária (sejamos realistas, em um aspecto não físico não dá para dizer que estou sozinha, com a Alex, o Jota, o Tinho, o Thi...). Me bateu um sentimento de "mas porque estou fazendo tudo isso?".


E então, como um raio de sol no meio das nuvens, eu percebi que não importa o que eu esteja vivendo, eu faço isso por Ele, faço porque carrego o tirso. Faço porque isso me leva a Ele.

Prática cotidiana. Minha religião não é pautada pelas coisas complicadas feitas de vez em quando, mas pela constância das práticas, muitas vezes simples. Pela constância é que se constroem os relacionamentos, sejam entre pessoas, entre espíritos, entre devoto e deus.


Desenvolver uma rotina de culto pode não ser a coisa mais simples, mas é muito bom. Não precisa ser nada obscenamente complexo, mas algo que você possa praticar de forma realista, que não vá falhar, que seja feito com constância e atenção.


Não precisa necessariamente ser algo feito com hora marcada e um tremendo planejamento. Pode ser um incenso e uma vela, um beijo jogado na direção do altar quando passa diante dele e uma prece silenciosa no batente da porta.

Existem momentos em que vivemos nossos deuses com intensidade, com insights, coração descompassado e aquela chama que parece que vai nos quebrar e queimar. Mas isso é só um pedaço do caminho.

E não, eu não falo isso apenas para os outros. Mas como um lembrete também para mim mesma, que as vezes visto a pantufa de jaca, que as vezes me sinto desanimada, e que as vezes me questiono se estou fazendo as coisas certas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

dia 4- Nascimento, morte e renascimento

Uma das coisas que me ligam a Dionísio é que eu vejo a vida como uma sequência de mortes. Quantas vezes morremos e renascemos durante o tempo regulamentar de uma vida?

Quando meu filho nasceu, eu passei por um momento muito intenso com relação a minha religiosidade. Acho que foi um momento de mudança de foco, que me fez mergulhar em Leto e na idéia de uma mãe que luta pela sobrevivência/reconhecimento de seus filhos. Inegavelmente, dar a luz é um momento mítico. Ainda mais para mim, que optou e lutou por um parto natural, não hospitalar.

É difícil falar em nascimento, mais doq ue falar em morte. Nascer é algo violento, sangrento, e lindo, mas de uma beleza que é aporreton, que não pode ser dita, porque pertence a um domínio fora das esferas cotidianas. Nascer é um mistério: não a toa Ártemis olha pelos partos - ela é uma deusa que guarda coisas que não podem ser vistas/ditas.

O nascimento foge do racional, e quando feito em sua natureza, nos carrega para dentro da natureza mítica, é uma forma de iniciação. Não acho que seja a única, ou que seja melhor ou pior que outras,mas é uma iniciação. E uma em que participamos não só como mães: todos nós passamos pelo parto como filhos de algum modo, e isso diz algumas coisas sobre nós.

Acredito que isso diga muito sobre nossa personalidade, e sobre como reagimos ao mundo.Algo de nós é moldado por essa primeira iniciação.

A morte é uma proximidade muito grande do nascimento. De fato, é como se fossem duas coisas muito parecidas. Não a toa, deseja-se para as parturientes uma "boa hora" - mas boa hora é como chamamos tanto o parto como a morte.


Morrer é apenas não ser visto/ morrer é a curva da estrada já dizia Fernando Pessoa. Para mim iso define tudo. Meus mrotos me deram tantos sinais que me acostumei com a idéia de que a morte é algo natural. Doloroso? Com certeza. Mas natural.

Eu sou devotada a Hécate e isso me deixa numa complicada situação. Eu sou a pessoa que vela os defuntos, ritualiza as passagens, age como psicopompe quando é preciso. Não é confortável - é só algo que faço bem e que me foi colocado entre minhas muitas funções terrenas. E lá vou eu carregando moedinhas nos bolsos quando vou aos velórios, acendendo velas e expulsando os keres.

Mas a morte pra mim carrega algo de esperança. Porque Persefone desceu ao Hades para nos trazer esperança. Porque Dionísio morreu e renasceu e porque há algo de fragmento dele em nós, talvez.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Coisas bacanas do fim de semana - Indicações de leitura iniciais

Esse fim de semana eu fui convidada para falar sobre reconstrucionismo helênico em um espaço wiccano chamado Faces da Lua, pelo Edu Scarfon.

Foi muito bom. Surgiram muitas idéias, as conversas foram produtivas e eu vou postar algumas coisas aqui que sairam das conversas lá.


A primeira é: Eu não conheço nada de mitologia. Por onde eu começo?



Eu acho que para começar do básico mesmo, eu recomendaria a coleção Mitologia Helênica do Menelaos Stephanides. São oito livros voltados para o público juvenil, que pegam um geral da mitologia e que tem uma leitura bem fácil. São bons para começar, porque suas versões dos mitos não tem distorções muito agressivas.

Se você já conhece de mitologia helênica e quer se aprofundar, mas ainda não sabe bem por onde, eu recomendo ler a Teogonia de Hesíodo. Não é um livro que responda suas perguntas: pelo contrário, é um livro que te trás um monte de perguntas, o que é muito saudável. E ele dá uma base boa para se situar: começa do Caos que existia antes de tudo e vai até os filhos de Zeus, em uma ordem relativamente cronológica. E você acha online algumas versões.

A partir daí, com certeza você vai ter deuses que te chamam mais a atenção. E eu recomendo ir a partir deles.

Mas forma geral, acho que todo mundo deveria ler Mito e religião na Grécia Antiga, do Jean Pierre Vernant. Ele serve para muitas coisas,inclusive tirar o medo da leitura acadêmica. São 100 páginas só, com uma leitura muito gostosa.  

Eu tenho mais um monte de coisas para escrever do que veio deste fim de semana. Continuo durante a semana.

Ah sim. Sobre reconstrucionismo helênico em portguês, nós temos um agatho daemon chamado Alexandra que facilita a vida de quem não fala inglês imensamente. Clique na guia "RHB" ali em cima, e você vai para o site do Reconstrucionismo Helênico no Brasil, onde tem, em português, super acessível a qualquer um, todo o básico necessário para quem quer cultuar os deuses nessa base.


Abraços e até mais.

domingo, 7 de novembro de 2010

Dia 3- Dvindades

Eu sou uma pessoa que leva a sério ser "hard polytheist". Eu acredito que os deuses todos do mundo existem. Eu acredito até que John From existe e abençoa seus seguidores.

E eu acredito firmemente que cada deus é uma entidade individual, e embora alguns deuses sejam muito parecidos, são raríssimos os deuses que eu considero que sejam o mesmo com nomes diferentes.

Muita gente acha que eu sou exagerada. Quer dizer, John From? E Jeová? E todos os 300 mil deuses chineses? E o deus de cada lago, montanha, rio, caverna? E que o príncipe Phillip se tornará um deus quando morrer?

Sim, todos todos todos. Minha nossa, nós somos bilhões de pessoas, porque esses deuses todos não exisiriam?

Eu também não acredito muito em livre arbítrio. Por isso acredito que meu destino era servir aos deuses gregos e não a outros. O que eu pude escolher foi a maneira como eu Os serviria, talvez. Ou talvez, por algum motivo, eles tenham reparado em mim e decidido me tocar, e por isso esse passou a ser meu destino. Mas posso dizer que já tive experiências significativas com deuses de diversos panteões, inclusive experiências que me levaram a cultuar certos deuses dentro do panteão grego.

Kwan Yin, por exemplo, já foi uma deusa focal no meu dia a dia. Quando Leto apareceu na minha vida, a idéia de cultuar uma deusa de gentileza já fazia parte de mim. Shiva me levou pelas mãos até Dionísio e eu serei grata a Ele por isso sempre - e ao mesmo tempo, eu aprendi a amar Shiva por quem ele é. Muitos deuses são apaixonantes. Mas eles não me fazem sentir aquela fúria, aquela chama dentro do peito, que os deuses dos antigos helenos me fazem sentir.


E eu não acredito que deuses morram. Eles podem não ter mais seguidores, e podem até se retirar da vida das pessoas. Mas acredito que cedo ou tarde, eles decidem tocar alguém. E por alguém pode ser humano, ou uma pedra.

Talvez seja por eu ser tão aberta em ouvir a voz de qualquer deus que seja que meu culto foi tomando ares um tanto incomuns e eu acabe prestando devoção a diversos deuses cujo culto hoje em dia é incomum ou marginal.

Eu poderia passar três vidas só aprendendo sobre os deuses. E sempre penso naquele verso de Álvaro de Campos:

Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-rne,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.

sábado, 16 de outubro de 2010

Dia 2 - Cosmologia

No fim de semana do meu aniversário, eu tive uma conversa interessantíssima com meu companheiro, meu primo e um amigo nosso. Nós fomos, literalmente, do fim do universo ao seu início. Discutimos física, biologia, antropologia, ficção científica, viagem no tempo.

A certa altura, embarcamos em uma interessante conversa sobre como a teogonia de Hesíodo tem relações possíveis com a visão científica do começo do universo. Mas sinceramente, eu gostaria mesmo que o André escrevesse sobre isso - ele vai fazer muito melhor do que eu.

Eu acredito ao mesmo tempo nos mitos de maneira literal e na ciência. E por mitos, não digo só os gregos, mas muitos outros. E não acho que isso seja contraditório. Acredito que a verdade é como a luz atravessando um prisma: cada reflexo é a verdadeira luz, e é diferente. Então, quando penso na criação do universo, penso na cosmogonia de Hesíodo, e penso no Big Bang, e penso nos aborígenes australianos.

Quando vejo uma tempestade se formando, ao mesmo tempo vejo a explicação científica e Zeus agrega-nuvens.

Eu poderia falar mais, mas eu travei nesse tema e quero ir adiante. QUando arrastar o André e força-lo a escrever eu coloco o link aqui.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Hellenion =)

Hoje, cheguei em casa do trabalho (quarta feira é meu dia ruim lá), e me esperava um envelope branco. Dei um gritinho histérico que quem me conhece sabe que significa "empolgação ao máximo" porque eu sabia muito bem o que era o único envelope que eu estava esperando.


Dentro do envelope, estava minha pastinha de boas vindas ao Hellenion. Cheia de coisinhas legais. 

Nas palavras deles mesmos: 


"A Hellenion é uma oganização dedicada à promoção e ao apoio à reconstrução do Politeísmo Helênico. Nossa sociedade e grupos locais afiliados trabalham para reviver, na prática moderna, os antigos rituais, práticas religiosas e crenças éticas da adoração dos Deuses e Deusas da antiga Grécia e outras áreas helenizadas do Mediterrâneo a cerca de 700 ATC a 394 DTC."

Ou, como a gente fala aqui em casa: é a igrejinha. 
É a organização que me dá um embasamento e apoio ao meu caminho como reconstrucionista. Eles tem um programa de educação de adultos que é ótimo, para se desenvolver e entender profundamente como as coisas são.  Ano que vem,assim que começar uma turma eu vou fazer essa formação.

Esse imã gigante foi uma das coisas que eu amei. Por causa da frase: "Os deuses do Olimpo vivem"

Acho que isso resume muita coisa, né. Os deuses vivem. E nós... nós os adoramos.

Eu poderia escrever muuuuito mais. Mas depois tem muito mais pra falar...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dia 1-Porque Politeísmo Helênico?

Responder que o motivo são os deuses seria pequeno. Se fosse só pelos deuses, eu poderia ter continuado no caminho que eu estava trilhando, não precisava me preocupar em ser reconstrucionista. Então, o que foi esse algo mais que me trouxe para o reconstrucionismo?




Alexandre o Grande.

Quando eu tinha nove anos de idade e era uma pequena obcecada pela mitologia grega e egípcia, ganhei de presente o livro O Príncipe Invencível, um romance sobre a vida de Alexandre Magno para crianças. E aquilo me tocou, me comoveu, deu forma para aquilo que se tornaria quem eu sou.

Eu passei a buscar a ética e a virtude dos antigos helenos. Meu pai percebendo isso, alimentou meu fascínio, contando histórias, falando de filosofia, me dando livros. E eu cresci tendo como exemplos, como modelos, Alexandre, Leônidas, Diogenes, Epicuro,Sólon...

E sofrendo com o fato de que os deuses dos antigos gregos, e por consequência, os ideais que eu anelava, estavam mortos.

Descobrir o paganismo foi um alento. Mas descobrir o reconstrucionismo alimentou muito mais do que só minha fé. Eu descobri que eu tinha companhia no meu amor pelos antigos helenos, pelo seu jeito de fazer as coisas, e principalmente em sua virtude e ética.

Era isso que eu havia buscado toda a minha vida: não apenas a fé, mas a ética, a virtude, o ideal, a visão de mundo.

O que me levou ao reconstrucionismo? A virtude. A busca por aquilo que é belo e verdadeiro.

Meu amor pelos deuses, qualquer caminho pagão desde que vivido intensamente poderia me trazer (como me trouxe por anos). Mas a busca pela virtude... isso o reconstrucionismo me deu forças e companhia para seguir em busca.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

30 day paganism meme

 Achei esse meme bacanudo. Bonitão mesmo. 30 dias de postagens. Você encontra por ai como "30-day paganism meme" mas neste caso eu usei a postagem do Of Thespiae e fiz minha versão em cima.

Acho que é interessantelembrar que são 30 dias,não necessariamente 30 dias consecutivos.
Mas vou tentar fazer consecutivo, vamos ver se consigo. Eu adoro escrever mas me falta as vezes o impulso inicial. Então, lá vamos nós. Vou tentar postar versões em inglês no Dreamwidth, mas se algum falante de inglês cair aqui, google translator, porque versão em inglês não vai ser igual, mesmo.

Se alguém quiser pegar, fique a vontade. Se algum pagão de outra vertente quiser seguir a proposta, eu aconselho a usar o google parapegar a versão mais "original".

30 dias de Hellenismos (que é o mesmo que Politeísmo Helênico, que é a palavra que gosto mais, mas hellenismos é mais curto de ecrever,rs).

Dia 1-Porque Politeísmo Helênico?
Dia 2-Crenças: Cosmologia
Dia 3-Crenças: Dvindades
Dia 4-Crenças: Nascimento, Morte e Renascimento
Dia 5-Crenças: Sexualidade Sagrada
Dia 6-Crenças: Divinação, misticismo, e coisas assim
Dia 7-Crenças: O poder da oração/reciprocidade
Dia 8-Crenças: Dias Sagrados
Dia 9-Ambientalismo
Dia 10-Patronos: Dionísio
Dia 11-Patronos: Leto
Dia 12-Panteão: Kheiron
Dia 13-Panteão: Curetes
Dia 14-Panteão: Thêmis
Dia 15-Panteão: eeer...panteão
Dia 16-Espíritos da natureza
Dia 17-Ancestrais
Dia 18-Meu modo de adorar
Dia 19-Comunidade
Dia 20-Hellenismos  e minha família
Dia 21-Outros caminhos que explorei
Dia 22-Hellenismos  e grandes eventos em minha vida
Dia 23-Ética
Dia 24-Estética pessoal em ritual & prática
Dia 25-Instrumentos rituais preferidos e porquê
Dia 26-Algum passatempo ”laico” com significância religiosa e porquê?
Dia 27-Como sua fé ajudou em épocas difíceis?
Dia 28-Uma concepçãoerrada sobre o Hellenismos que você queira clarear
Dia 29-O futuro do Politeísmo Helênico
Dia 30-Conselho para os que buscam

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ensino religioso

Quando a gente tem filhos a gente transmite coisas para eles. Assim, meu beija flor costuma identificar imagens de deuses, e tem alguns favoritos. Ele tem suas vivências espirituais, que muitas vezes me surpreendem.

Mas forma geral, não é algo que eu tenha feito de maneira mais organizada. Como ele já está com cinco anos, comecei a pensar algumas coisas um pouco mais estruturadas para lidar com o assunto,até como uma forma de rebater as influências externas.

Hoje começamos fazendo um livrinho juntos. Usei o material do site SmartKids e comecei pelos... 4 elementos.

Se estivesse fazendo um plano de curso no estilo "catecismo" para crianças mais velhas, eu teria uma outra proposta Mas como ele ainda é novinho, está aprendendo a ler agora, acho que vale a pena investir nos conceitos mais simples e fundamentais. Acho que o que nos faz membros de uma religião é não só cultuarmos aqueles deuses, mas abraçarmos a visão de mundo, a ética e as posturas.

O que nesse caso significa falar dos pré-socráticos com uma criança de 5 anos. =)

Nós lemos juntos, e conversamos sobre cada elemento enquanto ele pintava as imagens. Depois, eu montei o livrinho e ele ficou todo orgulhoso da sua obra.

Quero ver se depois faço um outro mais bacana, dessa vez com texto e imagens meus, assim posso compartilhar com outros pais pagãos.

Ah sim. A capa foi feita usando uma xilogravura dos quatro elementos. Originalmente a xilogravura incluia um Jeová entre os quatro elementos. Nada que um paint e um pouco de trabalho não resolvessem.

Fiz o título em letras balão, para ele pintar dentro, mas ele estava em um momento muito ortodoxo e decidiu que letras de título de livro tem que ser pretas.

Dá para ver quando ele estava mais concentrado e quando se distraia, rs. Afinal,ele pintou tudo sem minha ajuda,tanto as coisas totalmente dentro das linhas quanto as coisas que estão pintadas por todos os lados.


O texto do livrinho (retirado do site SmartKids e colocado em caixa alta para facilitar a leitura dos pequenos):


Quatro elementos é uma expressão que se refere aos elementos naturais: água, terra, fogo e ar.
Essa expressão tem origem lá na Grécia antiga com seus grandes pensadores que tentavam descobrir qual o elemento que formava todas as coisas.
O grande Tales de Mileto acreditava que a origem estava na água,
já Anaxímenes acreditava no Ar
e por fim Heráclito incluiu o fogo como agente criador.
Mas foi Empedócles de Agrinito que adicionou Terra a esses três conceitos e concluiu que tudo era formado por quatro elementos.
Os filósofos pré-socráticos identificaram esses quatro elementos primordiais, que eram opostos dois a dois:

água (fria e úmida) x fogo (quente e seco)
ar (quente e úmido) x terra (fria e seca)



Gerou momentos ótimos juntos e ótimos diálogos sobre os elementos e os filósofos pré-socráticos.


Depois que eu refizer o dos elementos, estou pensando em fazer um sobre virtudes, um sobre heróis e um sobre deuses olímpicos. Depois vamos ver o que rola. 


(e como as pessoas perguntam- não, não vou pirar se ele decidir quando tiver idade por outra religião. direito dele. Mas também é direito meu cria-lo dentro da minha religiosidade enquanto ele não decidir seu caminho.)

domingo, 19 de setembro de 2010

Aquilo que se pode ofertar

Sabe, há dez meses atrás, eu fazia parte de um grupo de culto. Não era um grupo reconstrucionista. Mas tínhamos um trabalho sério de dedicação aos deuses. Eu gostava muito de estar ali com aquelas pessoas. Uma das coisas de que gostava é que nos encontrávamos na casa de uma de nós, horas antes das celebrações, e começávamos a cozinhar. Passávamos a tarde na cozinha,conversando sobre coisas sagradas e preparando com esmero nossas ofertas. Era um verdadeiro banquete.

Agora, estou pendurada no outro extremo. Nos reuníamos para fazer as libações em parques, preciso pegar condução e pensar bem tudo que vou carregar. Nesse caso, me vejo escolhendo com esmero um bolo de milho recheado no mercado, ou vendo o Jota surgir com Natuchips de mandioquinha e inhame, e o Tinho com biscoitos de aveia e mel. Longe do ideal? Com certeza. Mas é o que é possível nesse momento: escolher com cuidado algo pronto, que possamos comer com as mãos, em um parque público.   

Em casa, vivo um meio termo. Ano passado, na Diasia, fiz bolo e ambrosia. Este ano, ofertei fandangos eco (porque tem formato de animais). Aliás, biscoitos em formato de animais é uma coisa que está ficando clássica entre os recons na Diasia: comprados mesmo, muitas vezes. As vezes, posso preparar algo bacana para o deipnon de Hécate, as vezes abro um pacote de cookies de mel, ou simplesmente pego umas colheradas de mel. Nem banquetes, nem tudo comprado pronto. Aquilo que é possível.


Sempre penso que o foco maior é que eu oferte aquilo que tenho de melhor. As vezes, o que tenho de melhor é um incenso de palito, um vinho de mesa tosquinho e uma vela. As vezes, é mel, água, leite, vinho e azeite, olíbano em grão e bolos feitos por mim mesma. As vezes, é cerveja, carne no fogo e meu trabalho. As vezes, tenho um hino e só. As vezes, um ritual de horas.

Mas sempre, é preciso buscar o que se pode fazer de melhor. Ainda que o melhor daquele momento não seja o que você gostaria. É melhor do que não fazer nada por julgar que não pode fazer muito.

As vezes,é preciso lembrar que a relação com os deuses se constrói das pequenas coisas de todo dia. Do lembrar de oferecer a Héstia a primeira porção do que você come. De dizer ao menos "bom dia, deuses" quando passa corendo diante do altar atrasada para o trabalho. De manter o pensamento em coisas virtuosas. De reconhecer que se é só um mortal. E de pensar nos deuses, em seus mitos, em sua forma, em relatos de outros devotos.

Não podemos tentar ser quem não somos. E se o que eu posso fazer é pouco, que seja feito com esmero, com a certeza de que será o melhor possível, e nada menos do que isso.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Libação do dia 11

Ficou um altar apaixonante não?
Não foi uma semana fácil. Foi uma semana corna em muitas coisas. Então, quando eu olhei para o céu e vi as estrelas por trás da pitangueira do jardim, enquanto os últimos detalhes entravam em seu lugar, eu me senti leve de uma forma absoluta.  Estou cumprindo meu dever. O resto não importa.

Acho que essa libação para Deméter e Perséfone foi meu momento de enxergar com clareza para onde meu caminho me leva, e sentir orgulho disso.

O sábado amanheceu ensolarado e gostoso. Chegamos no Água Branca, eu e o Tinho, um pouco antes dos outros para procurar um lugar para ficarmos.

O Parque da Água Branca, em São Paulo, é também a Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Totalmente adequado para celebrar Deméter.

Estivemos em 7 pessoas. Foi uma tarde leve e uma celebração bonita. Postei as fotos no Facebook. Ainda não me viro muito bem no fb, mas as fotos estão lá.

Acho que aprendemos mais a cada vez. Nos acertamos melhor. Conseguimos fazer as coisas com mais atenção. E nos envolvemos.

Estou feliz com tudo.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O que você vai fazer em 7 de Setembro?

Depois de tudo que nosso país passou em sua curta vida (porque somos uma nação muito jovem historicamente), nós temos uma relação com o nacionalismo de uma criança que era surrada pelos pais.

Assumo que uma das únicas coisas que os EUA/USA tem que me bate uma invejinha é o fato deles comemorarem o dia 4 de julho do jeito como eles comemoram. Eu sonho com um 7 de setembro assim, sabe. Onde todo mundo está vestido com as cores nacionais, as pessoas hasteassem bandeiras nos quintais, onde se estourassem fogos e as pessoas comemorassem de verdade que são brasileiras. Sabe, aquela palhaçada que as pessoas fazem antes dos jogos da Copa, quando subitamente lembram que são brasileiros. (ou como eu costumo dizer, "porque o meu país é o time de futebol dessas pessoas?").

Mas ainda que eu não tenha a comemoração de 7 de setembro desejada, eu ainda assim vou celebrar.

No 12º dia de Boedromion, que neste ano cai em 21 de setembro, nós temos uma festa chamada Demokratia, para Zeus, Atena e Thêmis, e o nome do festival já explica bem sua temática.


Assim, no meu 7 de setembro eu vou celebrar alguns heróis cívicos, que eu admiro e que acho que merecem ser lembrados. Maria Quitéria, especialmente, que lutou na independência.

Vou relembrar os nossos pracinhas, heróis da 2ª Guerra Mundial.

E vou fazer afertas a Zeus, Athena e Thêmis, onde ao invés de oferecer as coisas tradicionalmente ligadas a eles, vou oferecer itens que representem o Brasil.

Depois eu posto uma descrição detalhada do meu rito.


Mas eu queria dizer isso. Somos mais da pólis do que do pagus. Está na hora de deixar de lado essa mentalidade de medo,esse horror em ser patriota, e lembrar que, especialmente para quem busca nos antigos helenos sua fé, é preciso amar, respeitar e fazer o melhor possível dos nossos deveres de cidadãos.

Muitos morreram para que hoje eu possa estar aqui, cidadã. E honrar essa memória é meu dever.Como cidadã brasileira, e como serva dos deuses helenos.


ps- e esperem por mais do tema em 15 de novembro... =)

sábado, 4 de setembro de 2010

Na Antígona, de Sófocles...

..."Oh, tú de mais intenso brilho, com quem as estrelas em seu movimento se alegram,
as estrelas cuja respiração é  brilho e fogo;
filho gerado por Zeus, rei imortal,
Mestre do coro de todas as vozes noturnas,
venha, e trás contigo teu bando de tíades, que te servem,
e que em transe dançam diante de ti, por toda a longa noite,
e bradam teu nome,Iaco, doador de belas bênçãos"

(última estrofe de uma ode a Dionísio cantada pelo coro na peça Antígona de Sófocles. tentativa de tradução minha)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Libação a Demeter e Persefone

Aos helenistas de Sampa e adjacências e a quem estiver por aqui, dia 11 de setembro estaremos no parque da Água Branca celebrando a libação à Demeter e Persefone.

As libações do Hellenion são celebrações mensais, e a cada mês temos um olímpico diferente sendo lembrado. Seguiremos a ritualistica do reconstrucionismo helênico, e os parâmetros gerais do rito estão no tópico http://helenismo.forumeiros.com/libacoes-mensais-f7/libacao-a-demeter-e-persefone-2010-t663.htm


Nos encontraremos às 14:00 horas no metrô Barra Funda, e de lá vamos juntos para o Parque da Água Branca.

Se você estiver interessado em participar, peço que gentilmente me avise antes, aqui nos comentários, deixando seu email, para acertarmos os detalhes (e se quiser nos encontrar direto no parque, precisamos trocar números de telefone, porque decidiremos chegando lá onde vamos ficar - mas se tudo der certo,arranjaremos um canto mais "fixo" de encontro ali).


Venham e sintam-se bem vindos.  E depois teremos fotos por aqui.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

meu doce senhor

Quando eu O vi pela primeira vez, ele era o olho do furacão, o ponto de calma no caos da loucura. Ele era a raiz e a brotação que entravam por baixo da minha pele e forçavam a loucura a tomar seu lugar certo, sob controle, me ensinando sem me destruir.

Depois, eu O vi na vibração que emanava da pista de dança no porão do casarão. Eu o vi na entrega à música e na fumaça do cigarro e nas pessoas que dançavam ali. Ele estava no vinho barato que enxarcava meus sentidos enquanto eu me entregava ao abandono e na fumaça densa que alterava meus sentidos enquanto eu enchia um copo de vodka e começava a pintar. E quando eu escrevia furiosamente por horas sem parar em sobrefluxo de consciência, eu podia sentir suas mãos sobre meus ombros, e seu sopro em minha nuca.

Com o tempo, eu O vi na chama que se erguia e na libação sendo derramada, e vi seu rosto no escuro e no perfume sufocante do incenso.

Eu o vi na miríade de imagens que se sobrepunham, como se em um instante eu pudesse repassar na minha mente toda a iconografia dEle que eu vi na vida. Cada imagem sobreposta e multiplicada, em argila, tinta, mosaico, mármore, madeira, marfim, tudo.

Eu O vi cercado pela vegetação luxuriante que invadia tudo em torno dEle, e O vi belo como um príncipe celestial. Eu O vi como um coração pulsante sem corpo e no desespero do vazio de estar morto sendo imortal.

Eu O vi como serpente e touro, como pantera e raposa, e meu corpo se arrepiou com a presença dele enquanto a hera e a vinha se desenrolavam e agarravam a realidade, ofuscando minha mente consciente e permitindo que eu sentisse sua presença como uma sombra líquida que se derramava sobre a noite.

Eu O vi sujo de sangue e de olhar maníaco e O vi sereno e cuidadoso comigo.

Eu O vi em sonho, alucinação, transe, ritual. E eu sou absorvida por Ele a cada vez, novo, inteiro, coberto de som e perfeição, e tento descrever aquilo que vejo, mas não importa como , nunca consigo.















(e sim, para quem acompanha o House of vines, esse post foi imensamente influenciado pela torrente de postagens sobre Dionísio neste mês de agosto.)

sábado, 28 de agosto de 2010

O senhor de muitas habilidades

Eu não sei dizer como ele chegou na minha vida. Como a maioria das pessoas, eu era burra o bastante para permitir que seu culto passasse batido.

Mas então ano retrasado os Curetes decidiram chutar a minha bunda daqui até a Samotrácia. Com a gentileza que lhes é peculiar, esses deuses me escolheram para prestar devoção a eles e me dedicar profundamente a coisas que não sei colocar em palavras, porque afinal,são mistérios (que eu ainda só arranho a superfície). Eu não tenho vergonha de dizer: alguns dos deuses a que presto culto eu não teria me devotado se pudesse escolher. Porque é difícil, porque falta informação, porque é trabalho duro. Mas eu não sou boa em dizer não para Aqueles Que São. E é uma honra.

Bom, o fato é que entre outras coisas, os Curetes estão ligados ao fogo e a forja.  E essa coisa da forja, e por consequência da tecnologia foi ficando na minha cabeça.

Então, ali estava eu um belo dia quando me dei conta de que o deus mais presente no meu cotidiano era Hefesto.

Isso envolveu uma impressora xerox que decidiu não funcionar e o momento em que eu, dedos queimados, lanhados e sujos de toner, ergui as mãos e rezei a Hefesto. Em voz alta. No trabalho. E acho que ele achou engraçado aquela professora louca que de repente viu, naquela impressora quebrada, toda a tecnologia que permeava a sua vida. A impressora  funcionou.

Existem deuses que chamam atenção. Eu costumo dizer que Hermes é um deus que chega, abre a porta, pega uma cerveja na geladeira, senta no seu lugar do sofá e mete os pés em cima da mesinha de centro. E como a gente usa a tecnologia para se comunicar, é comum a confusão de ver Hermes como deus não só da comunicação, mas também da tecnologia.

Eu já fiz essa confusão também. Normal. Mas pense bem: como raios você pretende fabricar um celular sem usar o calor para modificar a matéria prima para que ela se torne os componentes necessários? E sem um mestre artesão que domine a perícia, nenhum objeto pode ser criado.

Quando eu olho em volta é difícil não pensar em como tudo tem o toque de Hefesto.

Meu altar é uma obscenidade de cultos. Eu por mim, se tivesse espaço, teria altares aos 30 mil deuses,rs. Mas eu fiz que fiz e não havia meio de incluir um espaço decente para o deus ferreiro. Acabei fazendo um oratório só dele, anexo ao meu altar principal. Ainda está bem simples. Mas já tem uma bigorna em miniatura, alguns objetos de ferro ou artesanato em metal, uma imagem dele que achei bonita.

Hefesto é o deus que cria a beleza. Não a toa ele desposou Afrodite. E não a toa há mitos em que depois dele e de Afrodite tomarem cada um seu rumo, ele se casou com Aglaia, uma das Graças. Quem melhor do que Hefesto para compreender a beleza?


O fato é que é muito fácil amar Hefesto. E eu tenho vontade de gritar isso para o mundo inteiro ouvir.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O lado B da minha relação com meu Daemon

Tem coisas que a gente não fala. Pegam mal. São feias. Gostar de Paulo Coelho é uma delas.
Meu primeiro blog para falar de espiritualidade, no entanto, também foi o primeiro blog que eu fiz o template. E como era o template do Buscas? Uma viagem psicodélica em cima da letra de Mata Virgem, do Raul Seixas. Esse disco é um dos meus preferidos na vida. (Já que estou falando de lado B, vamos assumir também que somos fãs de Raul Seixas, ok?)  Então, Paulo Coelho não era novidade para mim quando todo mundo começou a falar dos livros dele. Era o parceiro do Raul, oras.

Mas o que isso tem a ver com meu Agathodaemon?

Eu tinha uns 10 anos. Estávamos na sala de espera do pediatra. E minha mãe estava lendo As Valkírias. Eu estava irritada e impaciente (eu tenho fobia a médicos e hospitais) e ela parou de ler o livro para conversar com alguém, e eu pedi para ler. Ela me entregou o livro. E eu li. Minha mãe não sabia que já a alguns meses eu estava "roubando" a biblioteca de ocultismo do meu pai. Mas aquele livrinho com a imagem do arcanjo Gabriel na capa era perfeito para minha compreensão. Tinha uma linguagem cotidiana e falava de algo que eu convivia : mulheres e anjos. Virei o livro do avesso nos dias seguintes. E aquilo tinha exercícios simples de concentração, que eu conseguia fazer (tem muito exercício de teatro enfiado nos livros dele, mas isso tbm é divertido - pq exercícios de teatro sempre foram portas espirituais pra mim). Eu comecei a me concentrar, a limpar minha mente, a ouvir o silêncio e olhar o horizonte. E minha devoção a São Miguel Arcanjo e aos Santos Anjos explodiu numa centena de faíscas coloridas.

E eu podia sentir ele ali. Não como eu sinto hoje, não com a força com que sinto sua presença. Mas embora houvesse uma suspeita de escama e suas asas não fossem as asas branquinhas dos anjos da igreja, sua imagem era clara na minha mente quando ele se aproximava, carregando um chifre cheio de flores. Sabe como é, existem coisas que só as crianças conseguem fazer. Essas imagens mentais maravilhosas, por exemplo, cheias de detalhes.

Um ano depois, eu acho, apareceu nas bancas uma coleção sobre anjos que vinha com fitas cassetes para meditação. Era a época da febre dos anjos. Meu avô fez a coleção, não leu e tampouco fez as meditações. Eu peguei para mim. E todas as noites antes de dormir eu fazia as visualizações, as meditações e o caralho. E ai as coisas foram acontecendo.


Paulo Coelho é uma bosta em aspectos literários? Talvez. Mas eu tinha dez anos de idade e aprendi o que era canalização, e acreditei firmemente que eu podia falar com anjos. Então, eu queira ou não, devo uma para ele. Ok. Eu sei que na mesma época roubava livros da biblioteca de ocultismo do meu pai e e recitava trechos do livro dos mortos egípcio, e estava terminando de ler a bíblia pela primeira vez. Mas as Valkírias era a coisa certa para a minha idade, e ao invés de me colocar na teoria, nas coisas que eu não tinha maturidade emocional de lidar, me dava coisas práticas para trabalhar.

Quando rompi com o cristianismo, não senti falta dos santos e de deus e do cristo. Sentia falta do meu anjo, só. Nunca me desfiz dos meus anjos. Na verdade, estou olhando para os meus favoritos neste momento. Eles continuam aqui, mesmo representando coisas diferentes.

O fato é que eu nunca deixei de acreditar que havia alguém cuidando de mim. Então, aos quinze anos de idade eu fui atropelada e tive a sensação de ser amparada por imensas asas que me colocaram suavemente no chão. Nunca vou esquecer da aparência do carro que eu destrui com meu corpo sem me machucar. E um caco do vidro do farol do carro (que eu quebrei com o joelho) foi parar discretamente ao lado da minha imagem preferida de anjo ao mesmo tempo em que eu acendia velas de ação de graças para a Deusa.

Anos depois, veio a stregheria. As coisas começavam a fazer sentido e eu me voltei a um panteão greco-romano. E ali estavam os lare e os lasa, os genii, e eu me encontrei. De tudo que havia na stregheria, foi essa relação com os "gênios" (que eu agora chamo de daemones) que mais me cativou de cara. Dai para começar a cultuar meu agathos daemon foi um pulo, mesmo antes de me assumir helenista. 

E foi como voltar para casa. Eu assumo uma certa emotividade em falar disso. Porque eu me decidi a ouvi-lo 17 anos atrás, por conta de um livro bobo do Coelho. E o tempo devora, e hoje eu leio hinos antigos para ele, eu aprendi muita coisa sobre "spirit work" (não acho uma boa palavra em português), e quem sempre está lá por mim, quem me entende e ouve naquelas bobagens que não tenho coragem de pedir aos deuses?

Ele não se importa em me ouvir reclamar sobre o consumo exagerado de um item da dispensa que me obriga a ir ao mercado fora de hora, e tem a paciência de ouvir minhas preces para que um aluno difícil falte porque estou com dor de cabeça. Ele está comigo quando abraço os joelhos e sofro com a sensação de distância que as vezes sinto com relação a Dionísio e me ampara quando choro por bobagens. Ele me guia e orienta quando minha mente me prega peças. Graças a meu Bom Espírito, eu aprendo a seguir minha intuiçao e sei quando preciso parar e me permitir escrever mesmo que eu perca a hora. E graças a nossa relação, eu me viro em lidar com outros daemones, com os espíritos ligados aos lugares, com essas coisas espirituais cotidianas, que são muito mais "bobagens", que não dizem respeito aos deuses, que tem coisas muito maiores para cuidar do que minha batalha contra uma erva daninha num vaso de rosas.


Então, eis um pouco do lado B da minha relação com meu mais querido amigo espiritual, que com imensa paciência me aturava quando eu o chamava de anjo (mesmo com as escamas e a coisa com a Caçadora), que me orientou quando eu estava perdida, que voou até os deuses infinitas vezes para levar até eles pedidos de intercessão ou orientação para mim, e que esbanja alegria quando eu faço algo correto para o meu caminho espiritual. E que começou assim: com um livro do Coelho e uma coleção de fitinhas k7 da Mirna *insira aqui um sobrenome eslavo pior que o meu*.

domingo, 15 de agosto de 2010

Um questionamento

Estamos chegando em 800 visitas neste blog. Eu acho isso um bocado, principalmente porque não divulguei muito o blog, e não posto tão frequentemente.

Isso me colocou um pouco para pensar. Eu pensei este lugar para falar sobre a minha relação com os deuses, com minha religião e minha fé, em um ponto de vista nada científico, mas bem pessoal mesmo. Então não esperem textos neutros, focados e acadêmicos. Mas eu gostaria de saber o que vocês que entram neste blog gostariam de encontrar. Sobre o que gostariam que eu escrevesse? Que curiosidades o Depois da Dança despertam em você?


Seria realmente legal saber isso, e sabendo, vou tentar escrever sobre os assuntos que vocês citarem.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Senhora Distante

Quando a Trívia entrou na minha vida, ela abriu as portas para tudo o que viria depois. Foi Hécate quem me guiou para o culto aos deuses helênicos. Embora eu já fosse uma nerd de mitologia, e completamente apaixonada pelos deuses gregos, eu ainda estava tentando me achar.

Então, naquele dia, eu encontrei no meio de uma encruzilhada em Y uma chave antiga. Como uma resposta aos questionamentos que borbulhavam na minha cabeça. E a chave foi parar no meu bolso, e é como se Hécate me guiasse através do escuro onde repousavam minhas escolhas naquele momento, enquanto eu segurava a chave dentro do bolso. A chave foi parar em um cordão e por muito tempo ela ficou no meu pescoço o tempo todo. Não era a primeira chave que eu usava como pingente, e duvido que seja a última. Mas naquele momento, ela selou algo muito intenso.

Pesquisar a simbologia da chave me levou a Hécate e dela para o panteão grego todo. Hécate me levou pelas mãos para o caminho que eu devia trilhar.

Eu tenho uma percepção bastante pessoal de Hécate. Ela é linda. Fria e distante, mas ainda assim, uma deusa que se importa com os mortais de um modo que é muito pessoal. Ela não me parece muito paciente, fato - ela é sempre delicada como um tapa na nuca. Mas é aquela tia que sempre te protege se você correr chorando para ela.

A questão da aparência de Hécate é uma coisa engraçada que sempre é assunto. Porque na tentativa de forçar a barra fazendo os panteões todos se encaixarem na teoria de deusa tríplice donzela-mãe-anciã, apareceu uma trindade maluca onde Hécate seria uma anciã. Mas Hécate é uma jovem, e seu aspecto trino não tem nada a ver com essa coisa de donzela-mãe-anciã. Na verdade, eu acho que o jeito mais fácil de entender o aspecto tríplice dela é pensar nas divindades hindús, com seus muitos braços,cabeças e pernas, que são uma forma simbólica de explicar a maneira como a divindade se manifesta no mundo. É muito mais uma opção estética, que permite ao mesmo tempo mostrar uma grande diversidade de atributos.

Hécate não é boazinha,mas tampouco é uma deusa da morte assustadora. Hécate é feminina, nos extremos em que ser feminina também é ser uma "outsider", é carregar essa visão periférica cheia de fantasmas porque consegue ver aquilo que os outros não querem ver, aquilo que socialmente não fica no centro das atenções. Ela é uma deusa de coisas difíceis de lidar, de escolhas, estradas. De poder indomado.

Ela carrega uma parte no domínio de todo o resto, ela tem o favor de Zeus. Ela é uma deusa dispensadora de dádivas, e como todo deus dadivoso, ela é exigente. Seus atributos mostram o quanto ela não tem meio termo: ela carrega um punhal, uma tocha, um açoite, uma chave,objetos que não permitem ficar "em cima do muro".

Quando meu filho tinha três dias de vida, eu o apresentei a Hécate, pedindo que ela o protegesse. Tenho muito forte essa visão dela como protetora dos jovens, dos pequenos. Acho que as pessoas as vezes ficam um pouco obcecadas com aspectos mais "trevosos" (e que também são aspectos que as pessoas se apegam numa tentativa de parecerem mais fortes), e esquecem que Ela é muito mais do que uma deusa de "feitiços e fantasmas", mas uma deusa de proteção, de auxilio, de orientação. E quando não se tem força, é preciso aprender outros meios de se defender - veneno e maldição inclusive.

Mas quando é preciso pedir algo a algum deus, também se pede a Hécate para que ela intervenha em nosso favor.  E assim, Ela, que tem parte no mar, na terra e no céu, acalma as tempestades e auxilia, advogando pelas causas dos mortais.

Quando falo sobre Hécate, tenho a tendência a divagar. Porque ela é tão imensa e tão importante na minha vida, que não dá para escrever pouco...

terça-feira, 27 de julho de 2010

Uma carta aos ateus

Olá queridos ateus.

E digo queridos porque tenho um enorme número de amigos ateus. Funciona assim: eu não questiono sua falta de fé,eles não questionam minha fé. Mas eles retwittam um bocado de coisas. Postam links para vídeos, para textos, para artigos, sites. E eu sou, antes demais nada, anti clerical,e me divirto lendo piadas e coisinhas atéias. Acredito que a dúvida é saudável e que o ceticismo é um caminho tão válido quanto qualquer outro.

Justamente pelo grande respeito que tenho pelos ateus é que eu gostaria de expor alguns pontos que tem me incomodado bastante.

O primeiro deles é a postura "teleevangelista" de uma quantidade desproporcional de ateus. Eu espero que um ateu seja um humanista tolerante, como o são os ateus que convivo. Mas ao invés disso,encontro na internet um grande número de ateus crentes: atacam qualquer opinião diferente, de maneira agressiva e inconsequente, taxando todo aquele que tem fé como idiotas. Idiota é de fato a palavra preferida, junto com ignorante e inferior. Entendo que exista uma certa animosidade: assim como qualquer pessoa de religião não cristã tem um pé atrás com os cristãos depois de tantas agressões gratuitas. Mas acho que pé atrás não significa generalizações perigosas. E taxar o outro como inferior por ter um pensamento diferente do seu é fazer o jogo das religiões abraâmicas, que se acham superiores a todos os outros do mundo. Então imagine que estou eu, pacientemente tentando convencer alguém que ser ateu não torna ninguém maligno, e um desses ateus-crentes chega falando que somos todos uns incapazes ignorantes, idiotas que acreditam em papai noel. E lá vai minha conscientização e o trabalho de tantos ateus conscientes jogados na privada.

Ainda dentro dessa postura nós temos uma outra situação perigosa. São os ateus que adotaram a ciência como religião, no sentido ruim dessa palavra. Agarram-se a dogmas e escolhem alguns cientistas como profetas, e se recusam a falar do assunto exceto se for dentro de seus termos. Ai eu preciso ouvir meus amigos biólogos furiosos porque um infeliz deu um nome tão imbecil quanto "o gene egoísta" a um livro, atribuindo a um gene uma característica psicológica, o que gera uma impressão para lá de errada no público (e lembrando que a genética é por si só uma ciência que atrai multidões porque se adapta às idéias de superioridade, sexismo e intervenção exterior "divina" que são a base das religiões abraâmicas.). A ciência é algo genial- e eu me sinto abençoada porque na minha religião, ciência faz parte do processo. Mas a ciência é marcada pela moralidade, os preconceitos e as posturas da época em que ela acontece. E alguns ateus ainda carregam a visão positivista de uma ciência neutra e superior, racional e sem emoções que nos trará a salvação. Isso não é ser ateu, caramba. É esquecer a dúvida e a postura aberta diante dos fatos que caracteriza os ateus e se jogar numa realidade imaginária onde o nome do messias é Ciência.

Normalmente entre esses ateus estão os iconoclastas. Por iconoclasta entenda no sentido literal: os que acham que uma igreja barroca deveria ser demolida e seus santos queimados. Que diz que uma bomba deveria cair sobre o Vaticano. Eles acham que história não é ciência,aparentemente. E que a existência das religiões deveria ser banida. Eu sou arte educadora. Não posso falar deste assunto porque, tomada pela paixão, vou começar a mandar imprecações para todos os lados - eu abomino o desrespeito histórico, que é algo que nada tem a ver com fé.  

E por fim, eu gostaria de reclamar dos pseudo ateus que na verdade fazem o jogo das religiões abraâmicas, agem como eles e não percebem. Aqueles que consideram que religião é só o cristianismo-islamismo-judaismo. Que não enxergam as outras religiões todas. E imputam os crimes das religiões abraâmicas como se fossem crimes de todas as fés.

Minha religião, por exemplo. Me diverti um bocado com a tirinha "Os 7 pecados da religião" Mas percebi que por esse ponto de vista, eu não tenho religião, já que não praticamos proselitismo, consideramos que para conhecer a fundo nossa fé é preciso estudar o que a ciência tem a dizer mais do que o que os mitos nos dizem, valorizamos o prazer, acreditamos que a racionalidade é importante na compreensão da vida, convivemos com os diferentes e expomos publicamente qualquer um que aja com hipocrisia. Claro que tem gente mala ou sem noção - isso é geral no mundo, não estou escrevendo esta carta justamente motivada pelos ateus sem noção? Mas de todo modo, partilho da visão religiosa dos mesmos filófosos gregos que muitos ateus citam, porque, independente de religião, eram homens sábios.


Mas eu preciso dizer que me incomoda. Muito. Agir como se apenas as religiões abraâmicas fossem religiões é concordar com o que essas religiões dizem sobre serem as únicas verdadeiras. Além disso, existe um desrespeito contra as religiões tribais, animistas e não eurocentristas. Reflexo, novamente, de uma visão distorcida do positivismo, em que os antropologistas consideravam que havia uma escala de evolução na fé humana, indo do mais selvagem, mais inferior, no animismo, e "evoluindo" até chegar no monoteismo que seria uma religião "superior". É como se um grande número de ateus tivesse apenas acrescentado um degrau a essa pirâmide, e não fosse capaz,ou não desejasse saber que todo o estudo antropológico do século XX e XXI refuta essa teoria, que é preconceituosa e descabida. Ninguém é inferior por acreditar ou não em algo. Eu refuto o conceito de que algum ser humano seja inferior. Mas no muito, podemos dizer que o que importa é aquilo que fazemos de nossa fé ou nossa ausência dela - e ambos os caminhos são justos e válidos.


Lendo o site do Ateus.net, encontrei um texto delicioso de A.C. Grayling, entitulado Tolerância. Repito aqui um trecho do artigo, para fechar por hoje e na esperança de que nesse caminho de tolerância nos inspire a todos:


É possível tolerar uma crença ou uma prática sem a aceitar. O que subjaz à tolerância é o reconhecimento de que o mundo é suficientemente vasto para permitir a coexistência de alternativas, e se nos sentimos ofendidos pelo que os outros fazem é porque já nos deixamos envolver demasiado. Toleramos melhor os outros quando sabemos como tolerar-nos a nós mesmos; aprender a fazê-lo constitui um objetivo da vida civilizada.



abraços cordiais.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Libação a Atena

Foi lindo. E peço desculpas por não ter falado sobre isso antes. Mas essa semana foi frenética - e ainda vai render pelo menos mais dois posts. Um, sobre o domingo em companhia de Ares que passei no 2º Batalhão de Infantaria Leve em São Vicente, no meio de um pessoal muito bacana (e da louca vontade de voltar para casa com uma faca glock). Outro, sobre currículos e história pessoal.O fato é que ainda não consegui sentar e respirar, pensando em tudo que significou essa libação até hoje, quando parei alguns minutos e pensei: "uau,nós fizemos mesmo".


Como sempre, a CPTM decidiu me sacanear e as obras na linha férrea me atrasaram mais de meia hora. Encontrei o Jota e o Vinícius no metrô, e fomos para o Ibirapuera encontrar o Antônio.

O Antonio chegou antes de nós e fez um "reconhecimento geral" do parque. Assim, paramos em um canto mais discreto onde pudemos ficar mais a vontade, e montamos nosso pequeno altar.

A libação tem uma estrutura relativamente simples. Eu imprimi um "folheto" com nossa pequena liturgia, inclusive os hinos. Nós fizemos um rito bonito e eu fiquei muito feliz. Depois, sentamos para conversar e compartilhar um pouco.

Não adianta, a net é ótima, mas as vezes é bom poder falar ao vivo de certas coisas. Partilhar ansiedades, discutir idéias. E planejar estarmos juntos de novo - o plano é nos encontrarmos para todas as libações, mês a mês.

Foi genial poder estar lá, ao vivo, junto com outras pessoas. Existem coisas do convívio religioso que o caminho solitário não tem- seja a risada pelo esquecimento de um saca rolhas ou o sorriso silencioso quando alguém termina a leitura intensa de um hino.

Não foi perfeito, claro. Porque foi nosso primeiro, e se fosse perfeito, como poderiamos melhorar mais a cada vez? Mas foi ótimo e mosrou um caminho, que se delineia deliciosamente diante de nós.

E vocês podem ler aqui no Aktaios o post que o Jota fez sobre a libação =). E no multiply, tem um álbum com as fotos.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dica pro twitter

Eu achei (mentiraaaaaa, alguém deu rt, não sei se alex, thiago ou quem) um twitter muito legal de seguir, o @HellenicPrayer . Basicamente, esse cara posta pequenas preces de 140 caracteres para os deuses gregos... ele tem um blog também, mas ainda não tive tempo hábil para fuçar no blog como se deve.

Agora, todo dia eu tenho as palavras do @DalaiLama me impedindo de entrar em frenesi assassino  quando chego ao trabalho, de manhã, e essas preces helênicas delicadas para mover minha mente no resto do dia.

Recomendo, não vai atulhar o twitter de vocês e é uma leitura muito gentil para os olhos...

domingo, 4 de julho de 2010

das alegrias simples da vida

Comprei uma garrafa de vinho colônia hoje. Vinho colônia é o nome que se dá aqui em terra brasilis aos vinhos feitos por pequenos produtores, de forma artesanal  ou semi artesanal, e em esse nome por sua ligação com as colônias de imigrantes. Por motivos óbvios, é o vinho que eu prefiro para minhas coisas dionisíacas. Mas eu não tinha nenhum lugar onde comprar vinhos assim por aqui. Hoje, saimos sem muito rumo, "pegamos a estrada" e achei esse lugar onde compramos garrafas de vinho colônia, sem rótulo, tiradas do barril que estava ali do nosso lado. 

Um vinho doce, encorpado e feliz. Uma alegria simples como o esquilo que corria pela varanda da mercearia.

sábado, 3 de julho de 2010

Libação a Athena- vamos celebrar juntos!

Aos helenistas de Sampa e adjacências, a quem estiver por aqui,  e até algum não helenista curioso sobre reconstrucionismo (olá, João!), dia 11 de julho estaremos no parque do Ibirapuera celebrando a libação à Athena.

As libações do Hellenion são marcadas aos sábados. Mas por motivos civis, fica difícil um encontro no sábado durante o dia. Assim, decidimos nos encontrar no domingo para celebrar.


Nos encontraremos às 14:00 horas no metrô Brigadeiro, e de lá pegaremos um ônibus para ir para o Ibirapuera juntos. Se você estiver interessado em participar, peço que gentilmente me avise antes, aqui nos comentários, deixando seu email, para acertarmos os detalhes (e se quiser nos encontrar direto no Ibirapuera, precisamos trocar números de telefone, porque decidiremos chegando lá onde vamos ficar).

sábado, 26 de junho de 2010

Ares, a força da guerra, os aprendizados de Ares e um deus estrangeiro

Quem me conhece sabe. Sou uma pessoa da guerra. Tenho uma natureza explosiva, um gênio difícil e a paciência curta. Conviver comigo significa conviver com explosões de raiva e eventuais patadas, que embora não sejam intencionais, machucam. Para ajudar, sou aguerrida, defensora de quem precisa, apaixonada pela história da guerra. Eu não acredito na paz. Toda paz é, necessariamente, um armistício entre duas guerras. Parece cruel, eu sei. Mas é só pensar que, historicamente, nunca houve cem anos seguidos de paz sobre a face da Terra.  A busca pela paz é algo íntimo, não exterior, os samurais já nos ensinam isso.

 Mas se engana quem acha que ser cabeça quente e ter um "gênio ruim" me fazem amar aos deuses da guerra porque eles me permitam essa falha. Pelo contrário. Poucos dias atrás, estava mostrando a uma amiga o que eu repito sempre que preciso de calma, e foi divertido a surpresa dela de que fosse um trecho do Hino homérico a Ares:


Hino Homérico VIII - A Ares
(tradução Alexandra Nikasios)

Ares, de força extraordinária, condutor da biga, de elmo dourado, valente de coração, portador do escudo, salvador das cidades, de brônzea armadura, braço forte infatigável, poderoso com a lança.

Ó defensor do Olimpo, pai da Vitória bélica, aliado de Têmis, severo governante dos rebeldes, líder dos homens justos, Rei com o cetro da virilidade, que gira sua feroz esfera entre os planetas em seus sétuplos cursos através do éter, no qual seu corcel flamejante sempre te leva acima do firmamento do céu; ouça-me, auxiliar dos homens, doador da destemida juventude!

Verta um gentil raio de cima sobre a minha vida, e a força de guerra, que eu possa ser capaz de afugentar a amarga covardia de minha cabeça e de esmagar o doloso engano em minha alma. Retenha também a afiada fúria de meu coração, a qual me provoca a trilhar os caminhos da disputa de pavoroso sangue. Antes, ó abençoado, dê-me coragem para perseverar dentro das inofensivas leis da paz, evitando a contenda e o ódio e o violento espírito maligno da morte.


"Retenha a afiada fúria de meu coração"; E nos últimos dias, eu tenho pedido isso constantemente.

Tenho andado com a palavra "ataraxia" rabiscada no pulso, para não me esquecer. É uma palavra que ilustra um conceito dos estóicos e epicuristas, vem  de ataraktos, imperturbado: (a = não; tarassein, tarak- = perturbar). Esse ser imperturbável tem mais de um sentido, mas eu uso no sentido mais "chulé" mesmo, de não se deixar perturbar pelas questões da vida, ou como eu disse lá em cima, entender que a paz é algo íntimo, que deve ser mantida em qualquer ambiente.

 Acho que esse é um dos grandes aprendizados que a guerra trás, e é algo que os deuses da guerra me ensinam constantemente. Ser forte, simples, "impecável". O guerreiro é um arquétipo que está presente em todas as fés, em todos os lugares do mundo. Não a toa, o Arte da Guerra de Sun Tzu já esteve presente em mais de um altar para Ares que eu fiz. O Bushido me é tão importante quanto os livros romanos sobre guerra, e os relatos da campanha de Filipe e Alexandre Magno. Só não sou fisicamente guerreira, porque o exército brasileiro me considerou inadequada ao serviço.



Anteontem eu estava diante do altar da guerra, acendendo velas, queimando incenso e recitando hinos. É o dia do mês que eu separei para honrar os deuses da guerra. Dia 23.Esse é o momento em que as pessoas dizem, "epa, como assim?". Pois é. Eu escolhi o 23º dia do mês civil para honrar os deuses da guerra.

Não foi uma decisão fácil. Na verdade, foi um momento bem complicado para minha vida espiritual.

Ano passado, eu acho, foi que aconteceu. Não vem ao caso como, mas descobri que, para o panteão afro-brasileiro, sou filha de Ogum. E saber de que orixá você é filho não é como saber seu signo em um horóscopo. Para mim, que sirvo aos deuses, é algo que exige respeito. Nos meses que se seguiram, eu tive uma série de sonhos, muito belos, assustadores e intensos, onde meu pai Ogum me mostrou que, se eu quisesse, ele estava esperando pelo meu serviço. Foi um momento curioso quando contei os sonhos para algumas pessoas e descobri que tudo que eu descrevi era mesmo parte dos processos sagrados do candomblé (eu só vi uma gira de camdomblé na vida, não imaginava como seria a coisa "por dentro").

Então eu, me sentindo o pior do seres humanos, agradeci, e disse a Ele que não podia. Que eu tinha um compromisso e obrigações assumidos com os deuses gregos.

Eu diria que, para um deus da guerra, Ogum é muito gentil. Mas eu continuei sonhando com ele e me sentindo culpada com a situação toda de dizer não a um deus (que é um deus que eu levei dois minutos para amar).

Então eu li isso aqui:

A prática de incluir deuses estrangeiros na estrutura do politeísmo helênico era autêntica. Há vários casos na Grécia Antiga nos quais a deidade de outra cultura foi trazida para dentro da religião grega e fazia parte dela. Cibele, que era originalmente da Ásia Menor, adquiriu significativos seguidores na Grécia. No período helenístico, muitos deuses do Egito encontraram seguidores gregos, especialmente Ísis, que foi cultuada por várias pessoas por todo o império romano. Isso não significa um endosso ao tipo de ecletismo às vezes visto na comunidade neo-pagã, tipo misturando e comparando panteões e tradições para se encaixar nos caprichos de alguém. Mas há formas apropriadas de incluir um ou dois deuses de outros panteões na prática politeísta helênica sem comprometer sua integridade. A chave é realmente aprender sobre o sistema do qual a nova deidade vem, e como esse/a deus/a pode se encaixar no sistema helênico.
(Fonte: Sarah Winter, no livro "Kharis", traduzido por Alexandra.)

E foi assim que meu coração sossegou. Quando eu me comprometi a reconhecer o papel de meu pai em minha vida, e prometi a ele uma vela a cada dia 23 como reconhecimento a ele. E foi assim que um medalhão com a imagem de São Jorge (não acho uma imagem do orixá que seja pequena o bastante para caber no espaço que tenho) foi parar no Altar da Guerra, junto aos Curetes, a Ares, a Athena e a Thêmis (para que a guerra em mim sempre siga os passos da justiça). Agora, Kheiron, o professors dos heróis, e Hércules, também vivem no altar da guerra, enquanto não consigo fazer um altar só para os heróis. Foi assim que todo dia 23, uma vela vermelha e uma vela azul são acesas no altar da guerra, e então eu queimo incensos, leio hinos e trechos de textos que falam sobre guerra e virtude, recito um ponto ou poema sobre Ogum. Dia 23 de abril eu usei uma camiseta com a imagem dele, como uma maneira de honra-lo (e não posso evitar pensar também em Ares quando vejo a imagem de um são jorge nú, só de capacete e grevas, que é a da camiseta.). Tomo o cuidado de oferecer o que posso, sem nada que pudesse ser considerado ofensivo a Ele, e me mantenho no serviço aos Deuses com quem comprometi minha vida, que são os deuses dos antigos helenos. 

Para quem é pacifista, o meu respeito. Mas eu sou uma criança da guerra, e meu coração vive em chamas... =)





para quem quer ler um pouquinho mais sobre essa relação entre diferentes fés, a Alex fez um ótimo post no blog dela, leia aqui.

E um vídeo muito legal do youtube que é, basicamente, Ares passeando sobre a Terra, aqui.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

asas


Passo pela porta e olho a imagem de Hermes, com os fones bluetooth pendurados nela, as moedas espalhadas pelo oratório, a tartaruga, o globo terrestre. Sorrio. Penso em como Hermes é um deus que se espalha, que se ocupa de nós. Em como Ele é um daqueles deuses que sempre dá um jeito de mandar a vida cuidar de nós, seja com carinho ou um chute na bunda.

Peço uma benção, silenciosamente, e sigo em frente para enfrentar um outro dia.

domingo, 6 de junho de 2010

a loucura libertadora

Este fim de semana foi de um prazer simples mas muito importante para mim.  Principalmente por ter começado comigo trabalhando na emenda do feriado e não conseguindo ir celebrar o casamento de uma querida amiga na sexta feira. Cheguei em casa triste e abalada com isso.

Alguns minutos depois, no entanto, eu precisei me mexer. Juntar as coisas do narguile, colocar o notebook na mochila dele, separar cobertores e casacos. Esta noite eu tinha um compromisso, onde pretendia ir quando voltasse do casamento e que então acabou se tornando meu único foco.

Havia algo mais a ser celebrado. O aniversário do meu primo/irmão e do meu amigo/filho. E eu fui. Fomos, eu e Coiote, encontrar amigos queridos e desconhecidos divertidos para uma noite de música, álcool e fumo. 

O bando reunido na chácara era heterogêneo em muitas coisas, mas algo unia a todos. Ninguém ali era lá muito convencional. Todos ali conhecem aquele espaço brilhante de loucura, aquele saber-se imerso na transcendência da realidade. Jovens, mas cheios de histórias e vivências. Cada um enfrentando seus próprios desafios e batalhando para ir além.

Meu irmãozinho particularmente é um outro dionisíaco. Terminei a noite completamente chapada, largada junto dele e outro amigo querido, deitados no chão conversando coisas absolutamente surreais. Mas até chegar a essa etapa, nós tivemos divagações tão diversas, enquanto se ia de uma rodinha para outra, de um lugar da chácara para outro, e é incrível como os loucos e os bêbados conseguem ficar idiotas e ao mesmo tempo de uma sabedoria impressionante.

A música como entidade viva, influenciando a conversa e forjando ligações mnemônicas. Enquanto se comia carne e o fumo de uva no narguile perfumava o ar. Tempo para bebedeiras, discussões oraculares, comparações entre menadismo e budismo tibetano, estados da psique, vício e libertação, consequências do descuido com o corpo, culinária, sexo, criação de drinks, jogos, jogos etílicos, teoria do caos, cultura pop, mitologia, religião, fogo, astronomia e astrologia, plantas e jardinagem, insetos e aranhas, e todo um sem número de assuntos, enquanto se carregava um bêbado até uma cama, verificava se estavam todos bem, e ria-se muito.

No meio da noite, sentidos encharcados pelo vinho e o fumo, sentada num banquinho que eu arrastei até o meio da garoa, eu parei para escutar a noite. E fiquei pensando em como horas antes eu era alguém sentada furiosa em um local de trabalho, tentando em vão chegar a algum lugar, preocupada com hostilidades, minorias, agressões gratuitas entre as pessoas, assustada e prisioneira. E agora, estava leve, sentindo a garoa no meu rosto e ouvindo a música, enquanto alguém estava caído de bêbado dormindo no andar de cima, abandonadas todas as dúvidas, os medos, as preocupações.

É bom as vezes, isso. Deixar-se levar pela loucura, e encontrar liberdade nela. O mais curioso foi no meio da noite ouvir alguém clamando "oh pai da liberdade", de maneira totalmente avulsa, e sorrir, pensando em como Ele sempre dá um jeito de se fazer presente na noite de suas crianças.  
 

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Thargelia 2010 (um relato não muito convencional)

Foi bem simples, mas estou feliz com o resultado. Ainda estou aparando arestas na ritualistica. Depois de anos sendo eclética, as vezes a gente se embanana em usar um outro jeito (e não, eu não sinto falta de todo o aparato de magia cerimonial, muito pelo contrário - meu mundo é mais feliz com a estrutura dos ritos helenos).

Comecei fazendo os pharmakoi. E como pretendia usar o método "taque pedra, taque fogo, taque pedra" com eles, e pensando no que sei de magia usando efígies, fiz meus bonecos com papel crepon. O papel crepon é uma substituição aceitável para a palha de milho na hora de trabalhar.

É engraçado que quando os fiz, eles me pareciam bonitinhos, simpáticos. Conforme foram se tornando os receptáculos de todo o miasma da casa, eu olhava para eles quase que com ódio. Assumo. Incendiar os dois e purifica-los pelo fogo depois de ter descido ceboladas neles foi quase um prazer. 

(sim, isso ai do lado direito são os dois queimando)





Antes do rito, eu decidi que não adianta buscar o ideal sem tomar atitudes práticas. Então, desembrulhei as novas imagens que comprei pro altar, e fui realinhando tudo. No final, meu altar não está como eu gostaria, faltam coisas, sobram outras, mas pelo menos eu coloquei nele todas as imagens. Poseidon voltou a ter um espaço decente, Rhea Cibele está homenageada de maneira justa, Ariadne começa a ocupar seu espaço, Apolo finalmente tem uma imagem de culto... e assim vai. Apesar de alguns acidentes, que foram curiosos (engraçado que o porta retrato com a imagem de Zeus tenha espatifado depois que eu vi que ele estava quebrando e por carinho tenha decidido manter ele no altar), tinha um altar limpo, ordenado e pronto para o culto quando terminei.

Tomei um banho com um sabonete de oliva e alecrim, e me vesti com um moletom branco (eu ia usar minha túnica, mas o frio tornou isso impraticável).

Depois de quase esquecer de purificar o ambiente com a água lustral e esquecer as libações na cozinha, finalmente comecei a louvar aos gêmeos. Por questões de ordem prática (ou "única chance de estar sozinha em casa por semanas"), eu reuni os dois dias da thargelia em um rito só.

Hoje, optei por ler alguns hinos. O rito foi basicamente uma sequência de leituras de hinos a Artemis e Apolo, intercalado por libações. Foi simples, mas bem legal. Nao me esqueci de começar e fechar libando para Héstia, e achei um hino para ela que finalmente parece funcionar bem comigo.

Nas minhas oferendas, uma pimenta. Porque é o primeiro fruto deste ano, minha pimenteira está carregada. Comprei na padaria amiga aqui perto um bolo de milho com queijo branco para ofertar, e de última hora uma gérbera (acho tão a cara de Apolo).  E eu comprei umas velas (que não aparecem direito nas fotos, não tem como), em forma de flores.

Incensos, ofertas, libação, leitura de hinos, até que não me sai mal. Para quem começou a organização sem ter idéia do que fazer, me sai bem. Agora é que lembrei que esqueci de colocar o peso que já ficou leve demais para a musculação entre as ofertas para Artemis.

Acho que é legal perceber que mesmo que a gente precise fazer as coisas como pode e não como desejaria, conseguimos demonstrar nossas devoções, o que, no final, é o que realmente importa.

Me sinto renovada e limpa. E fazer um agrado para os deuses mais amados entre mortais e imortais é algo que me faz muito, muito bem.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

um mundo um pouco mais completo.

Anteontem, um amigo querido estava largado em cima de Gamera (meu pufe tartaruga gigante) falando comigo sobre os deuses. Ele é o meu contrário nisso: minha fé veio do fato de eu ser uma completa apaixonada pela mitologia. Ele tem a fé, e se apaixona pela mitologia a cada dia. Acho que fazemos bem um ao outro: eu tenho um pouco de conhecimento e ele tem uma entrega que é inspiradora. Aprendemos juntos, e passamos juntos por situações muito fortes de contato e amor pelo divino.

Ele falou algumas coisas interessantes ontem. Sobre como a nossa religiosidade tinha dado a ele um sentido de estar completo. Foi no mínimo curioso ouvir da boca dele algo que eu disse e repeti por anos: ´"era como se faltasse um pedaço de mim o tempo todo".

Ter fé não significa não ter problemas. Na verdade os deuses, todos eles, de todos os panteões, tem o péssimo hábito de querer que a gente sempre vá além do pouco - que a gente faça o nosso melhor, que a gente viva com intensidade, que a gente rompa os limites. E isso nos garante que as vezes vamos ser levados à exaustão.

Mas ter fé faz com que nossa vida tenha um pouco mais de sentido. Aquele pedaço faltando, que muitas vezes a gente tenta preencher com milhares de coisas, que vão de sexo casual, amor romântico, drogas, trabalho,família, coisas ruins ou muito boas, outras religiões, subitamente, quando a gente menos percebe, aquele pedaço faltando está preenchido pela sensação de que os deuses estão lá.

Não acho que seja assim com todo mundo - conheço um bocado de ateus muito bem resolvidos. Mas acho que é da natureza de uma parte de nós esse anseio, essa angústia que só pode ser preenchida pelos deuses.

Porque as vezes, a gente precisa subir na montanha e ouvir o vento rugir. As vezes, a gente gosta de ouvir o relâmpago a distância, e saber que não estamos sós.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

pensamentos aleatórios sobre miasma

É difícil explicar para as pessoas que miasma não tem nada a ver com pecado.
Para ser bem sincera a única pessoa fora de um contexto helênico que entendeu isso de primeira foi meu pai - ele se diz agnóstico, mas é mais como um odinista/shintoista/taoista não oficial, rs.

No shintô as coisas tbm funcionam assim, na base da limpeza/sujeira; acho que foi meu amor pelo shintô que me fez entender esse conceito de miasma tão fácil.

O fato é que esse último mês eu tenho passado bem gripada/alérgica/com sinusite/ e repetindo tudo de novo. E entre uma febre e outra, meu corpo decidiu que ia limpar tudo, absolutamente tudo que houvesse de errado nele, principalmente pelos poros. Na última semana me sinto em uma tenda do suor. Isso me irrita profundamente, e me faz pensar na coisa do miasma.

Não me sinto a vontade para lidar com o altar estando doente. Menos ainda estando nesse processo de limpeza do corpo.

Iso é um ponto interessante do miasma. Ele não tem a ver com culpa. Heracles não tinha culpa por ter matado os filhos em um surto de loucura provocado divinamente. Ele precisava se purificar do miasma do assassinato do mesmo jeito, no entanto.

Por um lado, me sinto relapsa na minha relação com os deuses quando olho de longe meu altar e vejo a poeira que a construção do rodoanel (a três quarteirões da minha casa) lança ininterruptamente sobre tudo nestas duas semanas em que não cheguei perto dele realmente. Por outro, penso que sujar o espaço com a minha tosse, coriza e suor seria muito mais desagradável aos deuses.

É algo extremamente pessoal. Com certeza. Se você se sente bem para fazer suas coisas, ótimo. Eu rezo a um passo a mais de distância do altar nestes dias.

Abri uma exceção na sexta feira, dia 23 de abril (mas isso vai ser assunto para outro post), porque não podia agir de outra forma e porque foi o único dia em muitos em que me senti realmente bem.

Ontem, sei lá porque, eu e meu pai conversavamos sobre miasma. Foi curioso porque ele tem muito forte essa idéia de se lavar da sujeira espiritual, então a conversa foi longe sem precisar de explicações sobre como o miasma não tem nada a ver com pecado - até porque coisas que não tem relação com "fazer coisas erradas" produzem miasma, como preparar o corpo de um morto.

Eu fico pensando em como me purificar e meu pensamento navega na direção de Hygeia novamente. Não sei porque, mas já faz algum tempo que tenho pensado muito nEla. Acho que é um bom momento para descobrir porque Ela parece querer alguma atenção da minha parte, e quem sabe me livrar desta sensação de estar ritualmente impura.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Libação a Ártemis, noumenia e outras coisas

O que dizer sobre minha libação a Ártemis?
Bom, que ela ainda não aconteceu. Rs.

No final das contas, fiquei muito gripada no dia. E acabei apagando no sono antes de fazer o rito. Mas então, eu decidi colocar algumas coisas em movimento e acabou que decidi que aquilo que estou dedicando a Ela ainda precisa se fortalecer um pouco na minha rotina antes que eu oficialmente ofereça essa devoção.

Mesmo assim, as coisas estão aqui separadas. Oferendas, velas, incenso, tudo preparado para que eu finalmente dedique a Ela.

Esta noumenia foi especial. Decidi começar a usar o rito do Neokoroi para a noumenia, com minúsculas adaptações, e estou muito satisfeita em ter achado uma forma fixa para a celebração. Foi bem legal, e eu fotografei...no celular, o que diminui a qualidade das imagens, mas eu posto elas mais tarde.

Agora, tou preparando algo para o Dia da Terra enquanto me recupero dessa sequência gripe-alergia-sinusite que me pegou e espero mais um pouco antes de contar que história é essa de estar fazendo algo dedicado a Ártemis no meu dia a dia.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Dionísia Urbana

..."Ele está brincando comigo,
ágil como um gato brincando com suas presas,
 dando o bote inesperadamente,
 golpeando em chocada submissão com as grandes patas,
 mas adiando a mordida letal até diversão diminuir.
 Ao contrário do rato com medo, porém,
 Eu não tenho nenhuma intenção de fugir.
 Eu estou com medo.
 Que homem não teria,
encontrando-se na presença do Senhor dos festejos selvagens?
Mas este Deus é meu Deus
e dei-me totalmente a ele"...

Sannion, Posessed


Dionísia Urbana. Não é um dos meus "festivais favoritos" quando o assunto é meu doce Senhor. De fato, a Anthesteria é o meu maior prazer enquanto festival, eu acho. Mas de toda forma, o festival chegou e eu decidi honra-lo. "decidi" como se houvesse outra opção, hihihihhihi. Já me acostumei que de algum modo essas coisas caem sobre mim.


A cada dia, fiz algo simples que me elevasse o pensamento, e é como se 24h por dia meu pensamento fugisse para Ele. Mas não foi um período fácil - não está sendo. Trabalho excessivo, problemas familiares, e uma crise no horizonte. 


Meu pensamento é um bicho selvagem. Aprendi a lidar com a ansiedade e a depressão, mas "lidar" é bem diferente de "evitar" e nos últimos dias estou a beira de uma crise. Consigo perceber isso por como me sinto agredida pelo ambiente, desconfortável com a presença humana, o sono irregular, e uma fragilidade imensa.


Mas meu Deus é louco. E isso nos une, porque lidar com a loucura e se libertar dela foi o que Ele experimentou na carne - e o culto a Dionísio me ensina e ajuda a superar minhas pequenas loucuras. 


Entao aqui estava eu hoje, trabalhando em casa com coisas da escola (coisa que odeio fazer), e decidi abrir uma garrafa de vinho para ajudar a alinhar o pensamento. Me entreguei a um equeno hedonismo, depois de oferecer a Ele sua bebida sagrada.


Ontem, meu pai virou o que sobrou do garrafão de vinho da Anthesteria no jardim. E tudo cheirava fortemente a vinho (ele lavou a árvore e as plantas com o vinho...era como se auqele fundo de garrafa tivesse se multiplicado). Parada no jardim, eu respirava o ar de chuva, ouvia os trovões distantes e sentia o perfume que encharcava meus pensamentos com a lembrança de Dionísio.


Segunda feira, eu passei o dia na cozinha, fazendo chocolates e pensando no nome científico da planta, "theobroma", fruto dos deuses. Acabei ofertando chocolate para os deuses. Acendi incensos e cantei.


Domingo, ainda vestida para ele, eu fiquei silenciosa, lendo sobre dionisismo.


Sábado, sai para beber e comer e rir e bagunçar com pessoas muito amadas. Vestida para Dionísio. E depois ainda tive a chance de desenvolver um pouco mais do trabalho de transe que faço para ele.


Sexta feira, vestida para Dionísio e Afrodite, eu dancei sozinha e ouvi música e recebi pessoas amadas.  (preciso escrever mais sobre isso de se vestir para os deuses).


Quinta feira, eu fui mais xamã e menos grega, rs. Mas ainda assim, li e respirei meu deus, até mesmo a pequena hera que divide o ar comigo no trabalho. 


Hoje, eu desenhei e pintei para Ele. E estou feliz com isso. E com minha taça de vinho. O amanhã? Amanhã é com os deuses.



 
 

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