sexta-feira, 21 de maio de 2010

Thargelia 2010 (um relato não muito convencional)

Foi bem simples, mas estou feliz com o resultado. Ainda estou aparando arestas na ritualistica. Depois de anos sendo eclética, as vezes a gente se embanana em usar um outro jeito (e não, eu não sinto falta de todo o aparato de magia cerimonial, muito pelo contrário - meu mundo é mais feliz com a estrutura dos ritos helenos).

Comecei fazendo os pharmakoi. E como pretendia usar o método "taque pedra, taque fogo, taque pedra" com eles, e pensando no que sei de magia usando efígies, fiz meus bonecos com papel crepon. O papel crepon é uma substituição aceitável para a palha de milho na hora de trabalhar.

É engraçado que quando os fiz, eles me pareciam bonitinhos, simpáticos. Conforme foram se tornando os receptáculos de todo o miasma da casa, eu olhava para eles quase que com ódio. Assumo. Incendiar os dois e purifica-los pelo fogo depois de ter descido ceboladas neles foi quase um prazer. 

(sim, isso ai do lado direito são os dois queimando)





Antes do rito, eu decidi que não adianta buscar o ideal sem tomar atitudes práticas. Então, desembrulhei as novas imagens que comprei pro altar, e fui realinhando tudo. No final, meu altar não está como eu gostaria, faltam coisas, sobram outras, mas pelo menos eu coloquei nele todas as imagens. Poseidon voltou a ter um espaço decente, Rhea Cibele está homenageada de maneira justa, Ariadne começa a ocupar seu espaço, Apolo finalmente tem uma imagem de culto... e assim vai. Apesar de alguns acidentes, que foram curiosos (engraçado que o porta retrato com a imagem de Zeus tenha espatifado depois que eu vi que ele estava quebrando e por carinho tenha decidido manter ele no altar), tinha um altar limpo, ordenado e pronto para o culto quando terminei.

Tomei um banho com um sabonete de oliva e alecrim, e me vesti com um moletom branco (eu ia usar minha túnica, mas o frio tornou isso impraticável).

Depois de quase esquecer de purificar o ambiente com a água lustral e esquecer as libações na cozinha, finalmente comecei a louvar aos gêmeos. Por questões de ordem prática (ou "única chance de estar sozinha em casa por semanas"), eu reuni os dois dias da thargelia em um rito só.

Hoje, optei por ler alguns hinos. O rito foi basicamente uma sequência de leituras de hinos a Artemis e Apolo, intercalado por libações. Foi simples, mas bem legal. Nao me esqueci de começar e fechar libando para Héstia, e achei um hino para ela que finalmente parece funcionar bem comigo.

Nas minhas oferendas, uma pimenta. Porque é o primeiro fruto deste ano, minha pimenteira está carregada. Comprei na padaria amiga aqui perto um bolo de milho com queijo branco para ofertar, e de última hora uma gérbera (acho tão a cara de Apolo).  E eu comprei umas velas (que não aparecem direito nas fotos, não tem como), em forma de flores.

Incensos, ofertas, libação, leitura de hinos, até que não me sai mal. Para quem começou a organização sem ter idéia do que fazer, me sai bem. Agora é que lembrei que esqueci de colocar o peso que já ficou leve demais para a musculação entre as ofertas para Artemis.

Acho que é legal perceber que mesmo que a gente precise fazer as coisas como pode e não como desejaria, conseguimos demonstrar nossas devoções, o que, no final, é o que realmente importa.

Me sinto renovada e limpa. E fazer um agrado para os deuses mais amados entre mortais e imortais é algo que me faz muito, muito bem.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

um mundo um pouco mais completo.

Anteontem, um amigo querido estava largado em cima de Gamera (meu pufe tartaruga gigante) falando comigo sobre os deuses. Ele é o meu contrário nisso: minha fé veio do fato de eu ser uma completa apaixonada pela mitologia. Ele tem a fé, e se apaixona pela mitologia a cada dia. Acho que fazemos bem um ao outro: eu tenho um pouco de conhecimento e ele tem uma entrega que é inspiradora. Aprendemos juntos, e passamos juntos por situações muito fortes de contato e amor pelo divino.

Ele falou algumas coisas interessantes ontem. Sobre como a nossa religiosidade tinha dado a ele um sentido de estar completo. Foi no mínimo curioso ouvir da boca dele algo que eu disse e repeti por anos: ´"era como se faltasse um pedaço de mim o tempo todo".

Ter fé não significa não ter problemas. Na verdade os deuses, todos eles, de todos os panteões, tem o péssimo hábito de querer que a gente sempre vá além do pouco - que a gente faça o nosso melhor, que a gente viva com intensidade, que a gente rompa os limites. E isso nos garante que as vezes vamos ser levados à exaustão.

Mas ter fé faz com que nossa vida tenha um pouco mais de sentido. Aquele pedaço faltando, que muitas vezes a gente tenta preencher com milhares de coisas, que vão de sexo casual, amor romântico, drogas, trabalho,família, coisas ruins ou muito boas, outras religiões, subitamente, quando a gente menos percebe, aquele pedaço faltando está preenchido pela sensação de que os deuses estão lá.

Não acho que seja assim com todo mundo - conheço um bocado de ateus muito bem resolvidos. Mas acho que é da natureza de uma parte de nós esse anseio, essa angústia que só pode ser preenchida pelos deuses.

Porque as vezes, a gente precisa subir na montanha e ouvir o vento rugir. As vezes, a gente gosta de ouvir o relâmpago a distância, e saber que não estamos sós.
 

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