quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dia 7- Oração e reciprocidade

Reciprocidade é uma palavrinha que a gente não vê todo dia por ai.



reciprocidade
(latim reciprocitas, -atis)
s. f.
s. f.

1. Carácter.Caráter.Caráter do que é recíproco.
2. Mutualidade.



Algo que é mútuo. Uma via de duas mãos. Acho que para falar da oração dentro de um contexto helênico, é impossível não pensar nisso: estamos empreendendo um diálogo e entrando em um relacionamento. Nossos deuses não são "energias" distantes e onipresentes. Eles são indivíduos, com gostos pessoais, personalidade e bom, individualidade, mesmo.


Já ouvi muita gente comparar a relação com os deuses gregos com uma barganha. Comparação infeliz. Quando você ama alguém, você não gosta de fazer coisas especiais para esse alguém? A oração nesse caso é isso: as palavras que a gente fala enquanto dá um presente. Porque ningupem quer ficar em uma relação onde todo o ônus de se doar está nas mãos de um só: um só dá o outro só recebe. E os deuses nos dão muito, então nada mais justo do que ao invés de só pedir mais e mais como um filhote de cuco.


Digo isso porque normalmente, oração inclui uma oferta. Um incenso, uma chama, um objeto, um sacrifício. Nós oferecemos junto com nossas palavras algo que demonstre nossa boa vontade, nossa disposição de se doar ao divino. Um símbolo de que estamos ali dando o nosso melhor.

A estrutura das nossas preces é bem simples e fica muito marcado essa relação de individualidade dos deuses e de nossas relações. 

A primeira parte da prece identifica o deus ou os deuses com que estamos falando. Seus epítetos, seus feitos, uma "elegia" daquele deus. A segunda parte nos identifica. Quem somos nós, o que fizemos, como nos dedicamos àquele deus ou deuses. A terceira é a conversa propriamente dita, onde se agradece, ou se pede alguma coisa, onde se oferece algo ou se assume o compromisso de ofertar algo se for auxiliado (nada diferente das promessas feitas em tantas fés).  


Uma prece é um momento de praticar uma fala bacana. Onde você não se diminui, porque tem que mostrar que vale a pena ser ouvido, mas também deixa de lado a arrogância e se refere aos deuses com respeito, reconhecendo a óbvia superioridade deles. 


E nós ficamos em pé. Gosto disso. Nós não nos humilhamos, nos mostramos nosso rosto, nos damos a conhecer e assumimos nossa responsabilidade. Isso é ficar em é, afinal: é o se colocar no mundo de maneira ativa. Quando eu fico de pé diante do altar, eu estou demonstrando minha atitude e assumindo meu espaço. 


Não é preciso rituais elaborados todo dia, sabe. Uma oração bem feita e uma vareta de incenso com o coração limpo, já significam muita coisa.
 
 

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