Quando eu O vi pela primeira vez, ele era o olho do furacão, o ponto de calma no caos da loucura. Ele era a raiz e a brotação que entravam por baixo da minha pele e forçavam a loucura a tomar seu lugar certo, sob controle, me ensinando sem me destruir.
Depois, eu O vi na vibração que emanava da pista de dança no porão do casarão. Eu o vi na entrega à música e na fumaça do cigarro e nas pessoas que dançavam ali. Ele estava no vinho barato que enxarcava meus sentidos enquanto eu me entregava ao abandono e na fumaça densa que alterava meus sentidos enquanto eu enchia um copo de vodka e começava a pintar. E quando eu escrevia furiosamente por horas sem parar em sobrefluxo de consciência, eu podia sentir suas mãos sobre meus ombros, e seu sopro em minha nuca.
Com o tempo, eu O vi na chama que se erguia e na libação sendo derramada, e vi seu rosto no escuro e no perfume sufocante do incenso.
Eu o vi na miríade de imagens que se sobrepunham, como se em um instante eu pudesse repassar na minha mente toda a iconografia dEle que eu vi na vida. Cada imagem sobreposta e multiplicada, em argila, tinta, mosaico, mármore, madeira, marfim, tudo.
Eu O vi cercado pela vegetação luxuriante que invadia tudo em torno dEle, e O vi belo como um príncipe celestial. Eu O vi como um coração pulsante sem corpo e no desespero do vazio de estar morto sendo imortal.
Eu O vi como serpente e touro, como pantera e raposa, e meu corpo se arrepiou com a presença dele enquanto a hera e a vinha se desenrolavam e agarravam a realidade, ofuscando minha mente consciente e permitindo que eu sentisse sua presença como uma sombra líquida que se derramava sobre a noite.
Eu O vi sujo de sangue e de olhar maníaco e O vi sereno e cuidadoso comigo.
Eu O vi em sonho, alucinação, transe, ritual. E eu sou absorvida por Ele a cada vez, novo, inteiro, coberto de som e perfeição, e tento descrever aquilo que vejo, mas não importa como , nunca consigo.
(e sim, para quem acompanha o House of vines, esse post foi imensamente influenciado pela torrente de postagens sobre Dionísio neste mês de agosto.)
Quando vier a primavera (Alberto Caeiro)
Há 2 meses
2 comentários:
Ai Sarita,
Sem dúvida ele é d+.
Intoxicante, fascinante. Ultimamente só de ler o nome dele em livros e internet já me "excito" com a presença dele.
No words!
E eu o vi em cada palavra sua! oO
E para mim você conseguiu descrevê-lo com perfeição, mas acho que não conseguirá mesmo com a perfeição que busca.
Eu vi um sorrido meio coringa no rosto e olhos zombateiros... =S
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